O SAMBA COMO INCLUSÃO SOCIAL

Por: Tadeu Paulista


MAIS DO QUE CARNAVAL, O SAMBA TAMBÉM É UMA INCLUSÃO SOCIAL!

Após oito meses de gestação, quando Daniel Marques Moreira Manfredini nasceu, seu pai só conseguia ver no berçário um meninão com o rostinho inchado e o saco roxo. Para ele tudo normal. Mas sua mãe, Cristina, sabia que algo era diferente. E em pouco tempo veio o diagnóstico do pediatra da família: "Seu filho tem um problema, ele não vai andar, vai falar pouco e vai ter uma vida muito curta, ele é  um mongolóide."

Numa mistura de emoções, pânico, tristeza e dúvidas sobre como agir e as barreiras que iriam enfrentar os pais do menino Daniel não desistiram e foram procurar outra opinião médica. Dessa vez ouviram que o bebê, ainda com poucos dias, não era especial mas sim uma criança normal, que iria ser um artista de tv rsrs.

Era tudo que seus pais, Josemar e Cristina precisavam ouvir. E desse dia em diante, se o menino Dandan, como carinhosamente é chamado, fosse ter uma vida curta como disse o primeiro pediatra, ele iria curtir sua vida todinha, com muita alegria.

32 anos se passaram e é assim que Dandan vive até hoje. Mas não foi nada fácil. Segundo seu pai, foram anos de muitas tristezas, preconceitos, internações com pneumonia, três fugidas de casa antes dos sete anos e até coleguinhas da creche sendo mudados de escola por seus pais para não pegarem a mesma "doença" do Dandan. Sim, o preconceito já foi pior e era assim que portadores de Síndrome de Down eram vistos, como doentes contagiosos.

Mas aos 14 anos de idade a vida do menino Dandan mudou.

Seu pai e companheiros disputavam samba na Caprichosos de Pilares, durante uma eliminatória Dandan sumiu. Vendo Josemar preocupado a procura do filho, o eterno Mestre de bateria Loro irmão do saudoso Almir Guineto bateu em suas costas e disse: "Fique tranquilo, seu filho está ali com a bateria." E lá estava o menino, se divertindo e tocando tamborim.

Este momento mudou tudo para Dandan. Ao conhecer o mundo do samba, seus horizontes se ampliaram, cor e brilho surgiram em sua vida, amigos, interação, música e ritmo, muito ritmo tornaram cotidiano, realidade. "Ai sim ele encontrou seu mundo", comenta seu pai.

Josemar e Cristina, totalmente dedicados à vida do filho, vendo a felicidade e empolgação de Dandan, proporcionaram curso de tamborim, aulas de cavaquinho e tudo mais que o samba podia lhe proporcionar.

Desde então, Daniel Marques Manfredini participa de tudo, de composição de sambas até os gritos de guerra e cacos nas gravações.

Mas sua paixão mesmo são as disputas nas eliminatórias.

Cheio de ritmo e simpatia, Dandan, que desfila todos os anos e canta os sambas com amor,  foi um dos intérpretes da escola mirim Tijuquinha do Borel, o que o destacou como o primeiro cantor com Down a se apresentar na Sapucaí.

Hoje, conhecido em todas as escolas de samba por onde passa, o rapaz carismático Dandan conhece um monte de artistas, vive cercado de passistas e grandes nomes do mundo do samba, toca tamborim, sabe todas as bossas das baterias e tem o carinho e admiração de todos os Mestres. Dandan já tem mais desfiles como ritmista que muita gente boa do samba. Já passou por Caprichosos de Pilares, Império Serrano, Beija Flor, Salgueiro. Alguns mestres já lamentaram ele nunca ter desfilado em escolas como a Mangueira e Vila Isabel.

Garoto, maroto, travesso, o samba trouxe vida para o Dandan e ele contagia, alegra e inspira o mundo ao seu redor.

Sem o samba Dandan não vive, e o mundo do samba agradece.

VIVA O SAMBA

Dia Internacional da SIndrome de Dow 21 DE março

 

 

Categoria:CARNAVAL

Deixe seu Comentário


Gaúcho - 22/03/2024 07h46
Muito bonita este exemplo de vida matavilhosa. Viva o Samba ! Parabéns !
Myrian Massarollo - 22/03/2024 06h12
Bela história. O Samba cria famílias, fortalece laços, inclui, ensina, buríla talentos, eleva autoestima, não discrimina, abraça e aquece o coração. O segundo médico tinha razão: o menino cresceu e virou artista!