DOAÇÕES PARA O SUL

Sapatos para o Sul

POR: Myrian Massarollo

Algumas agremiações de samba de São Paulo promoveram campanhas de arrecadação de doações para as vítimas das enchentes do Rio Grande do Sul nesse maio de 2024. Movidas pelo profundo senso de solidariedade que costuma fazer parte das comunidades do samba, presidentes chamaram seus componentes para ajudar e ninguém se negou.

Acompanhei mais de perto duas campanhas a do Bloco Estrela de Santa Luzia que fica no eixo entre Vila Monumento, Aclimação e Cambuci, e a Escola de Samba Mocidade Unida da Mooca, a querida MUM do bairro de origem italiana da Moóca.

Respeitadas as diferenças de tamanho, organização e engajamento, ambas fizeram sua parte envolvendo seus membros e desenvolvendo estratégias próprias para tentar auxiliar e minimizar o sofrimento transmitido em tempo real pela mídia.

Terça-feira, dia 7 de maio Rafael Falanga em reunião com seu Corpo Técnico avisou que lançaria a Campanha SOS Rio Grande na manhã do dia seguinte e que a comunidade toda já estava convocada para ajudar. Na quartafeira começaram a chegar as doações de roupas e mantimentos na quadra da Rua Bresser. A Ala Chique em conjunto com a Ala das Baianas iniciou um trabalho para levantamento de fundos para comprar água e em 24 horas arrecadou o suficiente para 1.200 garrafas, e foi essa ação que levou a história que quero contar hoje, a história de um par de sapatos.

Transportar a água do estabelecimento onde foi comprada exigiu uma estratégia especial que envolveu a empresa onde um dos chefes da Ala Chique trabalha e que gentilmente cedeu um carro grande o suficiente para levar os fardos de água para a MUM. Após descarregar o motorista ficou olhando as doações dispostas em prateleiras colocadas na quadra: os mantimentos, as roupas e os sapatos, tudo caprichosamente separado. Ele ficou um tempo parado simplesmente olhando, depois do qual se abaixou, tirou os próprios sapatos, colocou-os na prateleira junto com os outros, e foi embora descalço.

Eu não sei o que os leitores vão sentir quando lerem essa pequena transcrição de um momento que foi muito emocionante, aquele em que um ser humano por total solidariedade dá o que é seu, que está em pleno uso, para confortar alguém que ele não conhece e nunca saberá quem é. Daqui algumas horas um homem gaúcho receberá um par de sapatos de alguém de quem também não saberá absolutamente nada. Espero de coração o que quando calçar esse simples par de sapatos, receba também um pouco do amor de quem o doou, pois, se isso não é a mais pura expressão de amor e de cuidado com o próximo, eu realmente não sei o que é.

Que isso dê frutos, e se espalhe em uma grande corrente do bem seja o desejo de todos. Dê o que você usaria, dê roupas limpas e em boas condições, dê água e alimentos dentro da validade, e no pacote envie solidariedade e amor.