A honra de ter sido a primeira a portar o Manto Sagrado
Por: Myrian Massarollo
Toda porta-bandeira sabe a importância e a responsabilidade que envolve a atividade de portar o pavilhão de uma agremiação. O pavilhão é uma entidade, é a representação máxima. Onde o pavilhão não está, a escola não está. Esse assunto, por si só merece um artigo à parte, uma vez que infelizmente, por descuido ou desconhecimento alguns cometem o erro de não levarem seus pavilhões aos eventos que participam. Mas, vamos deixar esse assunto para depois e firmarmos nossa atenção na história de uma guerreira, de uma mulher que foi a Primeira Porta-Bandeira de uma agremiação e cuja simpatia e sabedoria merece ser levada ao conhecimento de todos os nossos leitores
Estamos falando de Cris Falanga, que durante 16 anos junto com seu Mestre Sala Rocélio cumpriu a missão de zelar pelo Manto Sagrado da MUM. Mas, não foi simples assim, e a história por trás desses anos de atividade mostra que como dizem os antigos que: “o que tem que ser, traz força”.
A Mocidade Unida da Mooca estava prestes a nascer, o Bloco Solta a Franga estava se transformando em escola, e todos foram a uma festa na Escola Colorado do Brás. Cris, irmã mais jovem de Roberto Falanga, que era presidente da agremiação, estava dançando perto da mesa, fazendo gestos com as mãos e girando ao som das músicas. Um diretor se aproxima e diz para Roberto que deveria colocá-la como porta-bandeira, porque a moça tinha jeito e porte.
A resposta foi “não, ela está só brincando”. Naquele momento Roberto viu em Cris apenas uma menina bonita sim, talentosa sim, mas jovem e sem experiência. Resolveu contratar uma porta-bandeira já atuante e Cris começou a treinar como segunda porta-bandeira.
Mas, como o destino é senhor, no dia do desfile a contratada não apareceu e Cris assumiu o cargo. Entrou poderosa na avenida e conquistou todas as notas máximas. A partir daí nunca mais se pensou em outra pessoa e como já colocado foram dezesseis anos de amor e zelo na condução do Pavilhão da MUM, só interrompidos quando o cuidado com o Manto Sagrado foi substituído pelo cuidado com seu bebê. Compreensivelmente a Porta-bandeira cedeu espaço à mãe.
Posteriormente, outros ventos sopraram e Cris foi levada ao exterior, EUA, onde morou por seis anos, e volta ao Brasil assumiu seu posto entre os diretores da escola onde outras responsabilidades a exigem sua atuação experiente e firme
Quando questionada sobre as principais diferenças entre a realidade das porta-bandeiras atuais e as antigas Cris aponta a questão do profissionalismo. Antigamente a atividade era mais visceral, a porta-bandeira defendia a sua escola do coração com a mesma garra e alma com que um torcedor defende seu time. Não é porque o time vai mal que o torcedor deixa de torcer, não é porque um time vence que você larga o seu antigo e vai para ele. Antigamente iniciavase em uma escola em qualquer situação, seja como porta-bandeira ou em qualquer outra função e defendia-se a escola até morrer. A Velha Guarda era a aspiração de qualquer membro. Hoje as pessoas são treinadas em cursos e associações visando uma profissão. Obviamente isso faz parte da exigência do mundo atual, mas, não dá para deixar de perceber a importância de incentivar os “crias da casa”, aqueles que nascem e permanecem no terreiro, e que tem o pavilhão da escola como uma verdadeiro “Manto Sagrado”.
Como foi dito Cris Falanga não é apenas beleza e simpatia, é sabedoria.
Que possamos aprender com ela. Salve Guerreira! Salve nossa eterna Primeira
Porta-Bandeira!
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QUE LINDO TEXTO ! CHEIO DE EMOÇÃO , CHEIO DE HISTÓRIA! E VIVA O SAMBA !!E VIVA O BRASIL!