SAMBA DA VELA
Samba da Vela
Por : Myrian Massarollo
Uma verdade da vida é que nunca paramos de aprender, de conhecer, de nos deslumbrar e de nos apaixonar. Nessa segunda-feira a noite, levada pelos amigos de batuque Ale e Jacque, com 23 anos de atraso finalmente participei de uma famosa roda de samba de Santo Amaro, o Samba da Vela.
Você leitor já os conhecia? Acha que não estou trazendo nenhuma novidade? Tudo bem, sei que são famosos e que em breve completarão 24 anos, que em 2000 tiveram como madrinha ninguém menos do que Beth Carvalho e que já receberam homenagens diversas inclusive na Assembleia Legislativa de São Paulo. Não estou aqui para contar a trajetória dessa comunidade que pode ser melhor conhecida através de suas páginas e de uma simples pesquisa na internet. Minha missão é transmitir o encantamento dessa amante do samba no seu primeiro, e espero não último, contato com esse grupo.
Cheguei à Casa de Cultura de Santo Amaro pouco depois das 20h, e de cara encontrei uma Roda de Chorinho na varanda aberta do casarão. Fala sério, isso é recepção classe A. Eu já teria ficado satisfeita só com isso, mas, era só o começo.
Na recepção uma moça simpática entregava os livretos com os sambas diante de uma contribuição de R$ 10,00, que se mostrou para lá de simbólica diante do show que presenciamos. Cadeiras estavam dispostas em círculos que se ampliavam tendo ao centro uma mesa coberta com uma toalha de crochê branca, azul e rosa; em cima da mesa uma vela em um castiçal protegida por uma cúpula de vidro retangular.
A maioria das pessoas ainda estavam em pé e fiquei em dúvida sobre onde deveria me sentar. Acabei optando pelo círculo atrás dos músicos, que ficam sentados no primeiro em volta da mesa. Na minha santa ignorância, sem conhecer ninguém, achei que ali ouviria melhor. Não contava com a acústica maravilhosa da sala, nem com a potência de voz dos intérpretes, apoiados pelo retumbante Chapinha, que na qualidade de fundador presente abriu os trabalhos da noite.
A vela foi acesa. E por todo tempo que durou o ar vibrou com uma fantástica roda de samba de terreiro. O samba vibrante marcado por palmas e por coro, o samba tradicional que expande a alma e faz com que a conexão entre as pessoas se torne quase palpável. Samba de terreiro, cuja origem no samba de senzala, deixa claro que estávamos em uma comunidade, em uma egrégora. Emocionante!!!
Foram pouco mais que três horas de samba, a vela feliz não queria apagar, querendo deixar o som rolar mais um pouco. Ao longo da noite vários autores apresentaram suas obras, dentre eles duas mulheres: Vó Suzana e Soraia Loti. Que orgulho ver duas mulheres brilhando, duas compositoras de alto calibre. Semana que vêm outras mulheres se apresentarão, quero estar lá para aplaudir.
Dentre muitos maravilhosos vou ressaltar um samba que foi cantado por um homem, Caio Prado, mas, que foi feito em parceria com uma mulher, Elis Almeida. A composição chamada “Dona Justa”, trata de um problema muito comum e que prejudica o dia a dia de muitas mulheres, o não pagamento da pensão alimentícia para os filhos. Refrão fácil que acabou abrindo espaço para algumas improvisações, trazendo os presentes para a participação ativa na apresentação da composição. Amei!!
E falando em ativismo não dá para deixar de ressaltar que diversas canções apontam questões sociais. Ninguém ali é alienado, todo mundo sabe bem quais políticas públicas seriam necessárias para mudar destinos. Em vários momentos lembrei de Chico Buarque, creio que ele ficaria a vontade sentado ali naquela roda. Apesar de terem sido tocadas músicas dos compositores presentes, aparentemente um dos regramentos do grupo, foi aberta uma exceção para ninguém menos que Cartola que teve sua composição “O sol nascerá” puxada por Chapinha e cantada em coro por todos os presentes. Lindo demais!!!
Por último depois da vela se apagar foi servido um delicioso caldo verde. Confraternizar era o objetivo, momento de trocar ideias, de conversar, de ser apresentado e se apresentar. Aproveitei para perguntar para o cearense Chapinha, 100% erradicado em São Paulo, cercado por sua família e amigos, vibrante e feliz por estar liderando um movimento cultural de sucesso por 23 anos consecutivos, se a segunda-feira e a vela tinham algo a ver com os Pretos Velhos e com Obaluaiê, afinal a espiritualidade estava presente nos votos de saúde e paz no momento do acender a vela. Risadinha suave, afinal não é local de religiosidade e sim de espiritualidade, e a confirmação rápida sobre as almas benditas e a ancestralidade, porque quem não sabe de onde veio, não sabe para onde vai. É isso, Adorê as Almas! Amém para quem é de Amém, Axé para quem é de Axé!
E você, leitor e leitora, não marque bobeira como eu marquei, se ainda não conhece
vá conhecer. Samba da Vela, toda segunda-feira à noite no Centro Cultural de Santo Amaro.
Deixe a vela brilhar e mostrar o caminho.
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Querida amiga!! Que linda narrativa, tinha certeza que iria amar o Samba da Vela. Te agradeço imensamente pelo aprendizado deste ano que foi muiito intenso naquilo que nos faz mais feliz, o Samba. Que venham muiiitos momentos de alegria!! Um beijo em teu coração 💃💋💃
Simplesmente maravilhosa a sua leitura ! Parabéns ! E sim vamos sempre prestigiar o Samba da Vela.
Muito bom o texto .. Parabéns ! O samba da melhor qualidade pede passagem
Alô Barra Funda. Aquela Ponte Aérea. Rio x Sampa. Magno Alexandre Direto das Terras de Noel. Vila Isabel. Grande Abraço a Todos.